terça-feira, 29 de junho de 2010

Adeus aos poemas

Houve contentamento no olhar que lançou pela janela. Fazia uma lua de céu e nubladas nuvens, enquanto as estrelas compartilhavam um pacto solene de não aparecerem. Ele coçou a cabeça mais de uma vez, quase arrancando o pouco cabelo que lhe restava. Havia também pequenos cadernos de poemas, amassados, manchados de comida, riscados sobre páginas e ilustrações. Alguns dos poemas eram profundos, metrificados e nada espontâneos, outros eram opostos. Sobre todo o resto, revistas, lápis, xícaras, papel de bala, havia uma pistola prata, reluzente, sendo tocada pela luz amarela do único abajur do quarto, que na escuridão da noite lhe servia de fogueira. Ele estava em pleno estado de êxtase, sorrindo e lançando suas visões contra o mundo além papel.
Tinha escrito sobre as liras de Azevedo, sobre o toque juvenil de suas mãos entre as coxas de uma mulher e tinha escrito sobre o carro preto que não saia da frente da sua casa. Estava num estado sombrio e sóbrio, claramente a mostra numa superfície desgastada de escritor/louco.
A mão viajou da sua inércia até o gélido contato com a pistola. Os lábios curvaram em um “u”, inocente, arrependido e delicado. O peso da arma proporcionou uma surpresa, não imaginava ser tão leve um objeto que proporcionasse paz tão imensurável quanto à morte. Posicionou a arma sob o queixo, coçou a barba como se manuseasse um barbeador, então se despediu da vida.
“Noite, se você me escuta de algum lugar, saiba que amei você em todos os ponteiros apressados. Amei quando não via mais saída e durante sua estadia no céu eu escrevia sobre todas as alucinações da minha saudável cabeça... Vida, se me escuta, saiba que não enlouqueci quando pisei seu solo estéril, quando descobri as utilidades do meu corpo, ou quando conheci as proezas da língua, eu simplesmente cansei dos companheiros que perpetuam você... Deixo meu adeus às duas amadas, amantes de uma mesma página...”
Fechou sua boca e deixou que a bala viajasse seu interior, sulcando suas memórias, suas tristezas, suas felicidades, suas coragens... E em um último instante de consciência, entre o buraco do alto do seu crânio e o vento que atingia seus olhos, um pássaro acinzentado pousou o peitoral da janela e pronunciou um adeus, que talvez proporcionado por uma última alucinação, soou como “nunca mais...”.

sábado, 19 de junho de 2010

Senhor Desordem

Ok senhor Desordem
A psicose momentânea se foi
Pronto para uma viagem e malas em mãos
Estou quase certo disso

Certo Mr. Desordem
Mais uma vez um turbilhão
Mais uma vez mil meninos em mim
Organizando o caos, em ciranda

Meio fora do ritmo
Um caos e uma desordem
Nada certo ou em seus lugares
Parece vida, parece errado

Obrigado Senhor Desordem
Agora eu vejo com meus olhinhos
Bolas de gude e gatos
Bolas de gudes e cachorros

Mr. Desordem, my Mr.
O que eu faço com as chances?
Nesse barulho e nesses documentos
Sem assinaturas, o pior, sem assinaturas

Parece tudo certo e depois
Um caos momentâneo
Uma vida que parece vida
Bolas de gudes e tigres

Até mais Senhor Desordem
Você mora logo ali
De repente se você esticar o braço
De repente se você esquecer onde moro

By Mr. Desordem
Um adeus prolongado sem abraços
Fora o caos e as cirandas
Meio que certo, meio

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Referencias claras

Os olhos de brancura austera me observavam
E como se não bastassem minhas mãos tremulas, chorei
Era ali minha amada, pálida em seu torpor eterno
Musa de momentos de gozo solitário, dedicatórias alvas a minha admiração

Como amei aquelas curvas sinuosas, era minha passarela
De beleza uníssona enquanto escutava meus clamores
Minha donzela, Shakespeare não daria beleza maior as tuas mensuras
É minha doce amada, envolta de tempo e abraçada pela foice

Eu não contive minha mão e toquei aquela pele
Era fria e mesmo assim me sussurrou a libido
Guardava nas entranhas o desejo que segregou
Então o tive como se esperasse um corvo a minha janela

A tomei em meus braços e a despi com suavidade
Em meu peito pacóvio de suspiros morou o saber de sua morte
Mas de todos os momentos correto que mantive a minha Julieta
Aquele era o desespero de não os manter mais

Quando nua sob a luz trepida do luar que refletia no mar
Vi as veias paralisadas com a falta do palpitar
Decoravam a pele que me seduzia aos poucos
Dando por mim somente quando toquei os seios fartos

Como era gélida minha Julia, mas ardia em mim os olhos brandos
E sobre ela e sob a lua tive o verso proibido, chorei
Chorei as velas que acendiam em algum lugar
E tive que esperar que a paz viesse e o amor fosse

Mas era minha Eleonora, jazida na própria paz, no meu pecado
Eu chorei como um corvo que abatia minha rima inexistente
Só pude no final de minhas forças, olhar minha amada e repetir seu nome
Pedi que perdoasse meus atos e me abraçasse no céu

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Caça-palavras

Chamaram um caçador do horizonte rosado
Dizia-se dono dicionarizado das palavras
Cheio de porquês explicativos
Indicativos de sua autoridade na caçada

Perguntaram se sabia antes de mencionado
Motivo dedicado de sua vinda
Ele explicou que era sobre palavras fugidas
De feridas de um coração de donzela

Riram todos, obvio
Não previu o cavaleiro que na vila existiam poetas
Na verdade todos eram tolos
De louros declínios a solidão

Sem entender a solidão predisposta a faces
Fez realces ao motivo de seu erro
E todos concordaram entender
Compreender o erro hilário

Disseram que as palavras fugiram as páginas
Imaginadas ou não, escritas ou não
Fugiram, levando sonhos ilustrados
Inesperados espasmos de inspiração que se foram

Logo começou seu trabalho, monossilábicas
Arbitrárias ações dos unidos
Foi até as polissilábicas, violentíssimas
Raríssimas oponentes, mas capturadas

Estavam todas no papel do inicio
Principio do ocorrido
Motivo esse que trouxe o caçador
Orador do discurso final

Agradeceu o chamado
Irado pela adrenalina da caçada
Sorria estritamente e gargalhava
Estava realmente contente

As palavras juntas novamente
Comumente formavam o poema
Os poetas todos expressaram suas liras
Aguerridas sobre a gloria do caçador

O tema do poema era solidão
Então lido por todos
Criavam uma harmonia prazerosa
Honrosa situação que se uniam