quinta-feira, 22 de julho de 2010

Móbile

A mão pequena, muito pequena
Tenta, puxa o ar, espalma contra o teto
Não chora, mas geme enquanto rola pelo berço
E vê lá no alto alguns pássaros que circulam

Os olhos grandes, muito grandes
Acompanham, rodam em suas orbitas
É de uma cor esmeralda, talvez jade
E quando ele mira alguma coisa sorri bobo

A boca é gigante, muito gigante
Sorri, chora e para, como se abocanhasse o mundo
Tenta falar e não consegue ainda, só rola enquanto segue os pássaros
Sempre em circulo, olhos e boca acompanhando

E a palavra é boba, muito boba
Nesse instante banal e importante
Ele balbucia uma palavra que encanta ele mesmo
Um “pipiu” bate asas de sua boca enquanto os do teto migram

terça-feira, 6 de julho de 2010

Colisão

Dentro de um carro em movimento que segue para o norte sem previsão de parada. Meus olhos notam cada carro com uma visceral descrição de seus ocupantes, e em uma dessas descrições esta ela. O carro já veio e voltou em uma brincadeira decepcionante de quem toma a ponta da fila. Ela tem os olhos castanhos e sempre notamo-nos quando passamos, como uma bala disparada, um pelo outro. Ela tem nome, todos têm, o dela estava em uma folha pautada colada no vidro do carro, escondendo um sorriso bobo, quase infantil, e deixando a mostra as pontas roídas dos dedos contrastando com o cantinho da folha branca. Eu fiz o mesmo. Peguei meu caderno verde, risquei meu nome, esperei um sinal de que ultrapassaríamos o veiculo em que ela estava e colei meu nome no vidro. Depois disso um diálogo extremamente demorado...
“Fulana”
“Fulano”
“Gosto de você”
“Gosto dos seus olhos”
“Posso te encontrar?”
“Pode, mas como?”
“Não faço idéia”
“Pra onde vai?”
“Norte”
“Eu também”
“E se for nossa única conversa?”
“Ai mesmo assim te amei”
“Amei você também Fulano”
“Tchau Fulana...”

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A poça

Uma nuvem passou pela poça, nublada, cinzenta, os olhos do pequeno acompanharam a sua passada durante todos os longos minutos. Depois olhou para cima e não achou a nuvem. Coçou os cabelos finos, bagunçando a cabeleira fina, e voltou a olhar a poça. Agora passava um passarinho, depois outro, então um bando deles, batendo asas sem parar, num frenesi silencioso. Rapidamente o pequeno subiu seu olhar buscando os pássaros que migravam com pressa, mas não achou. Coçou, bagunçando ainda mais, a cabeleira fina, negra e longa. Apertou os olhos verdes contra o sol, depois voltou para a poça, e logo pintou seu rosto em uma grande interrogação, procurando na poça um sol que não existia... A poça estava chovendo, grandes raios explodiam em clarões na poça, no buraco feito de água que escondia um mundo privado. Ele ficou de cócoras, observando os ventos, os pássaros e os clarões. Depois olhou para cima novamente buscando o sol... Levantou e saiu em disparada em direção a uma bola. Voltou, caminhando devagar, procurando na água aquelas pinturas intrigantes. Parou por alguns poucos segundos, e logo gritou, já em uma nova dispara, um “já achei!”.