Os gritos eram de todo o tipo imaginado, crianças querendo colo, mães querendo descer as crianças, velhas carcomidas e esfomeadas, velhos atrás de mocinhas, mas a maioria de socorro. O colapso no meio da rua principal. Um motel na frente do quarto do punheteiro, cuja placa em neon soletrava OTEL, abrigava mais berradores de socorro. O mundo estava indo embora.
A televisão tinha passado a uma semana que o fim do mundo estava por vir. As pessoas eram zumbis comedores de televisão e logo o caos tomou conta. Os mercados fecharam e logo foram saqueados, na verdade todo o tipo de loja foi saqueado. Farmácias, camelódromos, carrinhos de pipoca, carrinhos de cachorro quente, lojas de conveniência, etc. O mundo estava acabado e ainda se acabando.
A melhor das idéias era as sobre prazeres imediatos. Alguns transavam pelas ruas e parques. Outros se masturbavam. Orgias se formavam rapidamente, entre lágrimas e esperma sempre alguém acabava mal. Outros comiam até passarem mal, ou usavam drogas e ficavam rindo pelas ruas, ou ainda dormiam. Outros matavam, as mortes aumentaram rapidamente. Tiros eram comuns. Facas na cintura. Duelos ao estilo velho oeste. Tudo era motivo de prazer, até mesmo um tiro era prazeroso. O fato é que o prazo para o fim do mundo era de oito dias, ninguém estava se importando muito com a maneira que iria morrer.
O homem de jaqueta olhou para o relógio. Meia hora, ele pensou, meia hora pra toda essa porra termina. Gozou e deu um gole no uísque. Levantou e foi até um som que estava embaixo da cama. Era um som pequeno que funcionava a pilhas. Ligou e esperou começar Simple Man, do Lynyrd Skynyrd. Se for pra morrer, ele pensou, morro numa boa. Num último gole terminou o uísque.