Aconteceu a dois dias:
Minha sombra me seguia como sempre, lado a lado com meu corpo gordo de escritório e gravata até que um poste se metia e a distanciava, ora pra frente ora pra trás. Numa dessas sacanagens de meia noite ela, minha sombra sem expressão, me passou a perna e não mais voltou. O que eu deveria fazer? Eu me assustei, nada mais lógico, mas depois do susto veio um alivio. Você que está lendo essa passagem absurda não se assuste, não é um roteiro de algum filme do Zé do Caixão, é um fato verídico e de veracidade autêntica (redundância é a ênfase). Eu então senti que minha vida mudaria. Não andaria mais a meia noite e me preocuparia com uma imagem negra revelando minha forma roliça aos meus olhos, simplesmente seria um gordo despreocupado. Mas já adianto para o leitor extremamente empolgado com a história de minha situação fantasiosa, muito embora verídica e de veracidade autêntica, que nada de mais aconteceu. Foi logo após dois passos, simples passos, que minha sombra fez falta. Havia ali na esquina um teatro de sombras, realmente assustador, eu pensei, que diabos de coincidência, eu também pensei isso. Certifiquei-me de que a sombra não estava mais ali e parei para observar aquele espetáculo magnífico – confesso aqui, e espero que fique somente aqui, que quando criança meu maior sonho era ser um daqueles artistas de mãos sombrosas – e o assisti por completo.
O espetáculo:
Uma mão aparecia na tela branca. Ela estava aberta e depois se fechava em um punho. Em seguida se abria formando uma mão, contava cinco dedos abrindo, e depois do cindo vieram mais cinco. Era uma mão de dez dedos. Depois ela fechava, tornava-se punho, e abria novamente, agora contava vinte dedos. Novamente a cena se repetiu e quando veio à tona a contagem, Voilà, duas pombas feitas de dedos batiam asas. Mas o tempo não foi longo para as pombas que quando pousaram a beirada da tela foram engolidas por um crocodilo feito de mãos e braços. Depois veio caçador e crocodilo virou bolsa. A bolsa pertenceu à perua que foi atropelada por um punho e no seu funeral soltaram pombas que viraram dedos...
Voltando ao assunto:
Logo depois que assisti a aquele espetáculo extremamente grande e de surpresas inimagináveis senti falta da minha amiga sombra. Pensei comigo, quem faria as brincadeiras? Com que sombra meus pombos bateriam asas? Como meus crocodilos comeriam meus pombos? Ora, eu sentia falta. Quando cheguei a minha casa, logo no portão, fui abordado por um sujeito, um sujeito de nome Suspeito. Seu Suspeito se apresentou como vendedor de sonhos e bugigangas. Entre alguns despertadores se achavam mulheres e carreiras promissoras. Percebi a oportunidade que o destino me dera. Quanto custa uma sombra, perguntei, bom, sombras são brindes meu amigo, ele respondeu, brindes do que, perguntei, bom, se você comprar mais de cinco itens você leva uma sombra, ele respondeu, então me apresente seus produtos seu Suspeito, eu exclamei. Nesse instante cometia o maior erro da minha vida, entre os produtos que o senhor Suspeito me vendeu estava à bendita sombra, que mais seria maldita. Ele me deu de brinde uma sombra dançarina, e se ainda consigo escrever sem dançar são graças às câimbras dessa maldita. Sinto falta agora da minha sombra roliça.
Esses textos bons tu não me mostra né ~XD
ResponderExcluirColoca em um livro de contos~
Gosto de sonhos, de vendedor de sonhos , e foi inusitado o fim = ~
Muito bom, e pára de usar DORGAS!
ResponderExcluir'tô zoando, cê tem talento pra pirar em coisas banais, brother. 'tô gostando de ler isso aqui.